Todos os dias quando acordo vejo como está o tempo e a temperatura, nos primeiros dias do teu desaparecimento isso não se fez tão importante, até os primeiros dias frios, muito frio, lembro do nosso sentimento de pavor nesses dias, como você iria sobreviver a isso?! Vários dias foram se intercalando com tipos de temperatura diferentes, não foi um inverno tão radical, isso alivia um pouco. Mas olhar pela janela se tornou um hábito, parece acontecer uma breve conexão nas primeiras horas do meu dia contigo. Ali busco ver como tu poderias estar. Lembro que no início do frio íamos buscar as malhas da Meri, botas Capodarte, biotipos diferentes, mas mesmo gosto pela qualidade. Quantos anos fizemos isso, mesmo estando aqui quando ía a Pelotas dávamos uma chegada na Quinze, depois na galeria Satte Alam, lá no meio um café espesso (como os italianos), íamos na fábrica na Anchieta, as malhas enchiam os olhos, cores e modelos. Temos várias eu e tu… É como fazer um circuito turístico, no pouco tempo que dispomos, caminhar, conversar, olhar o que gostamos, uma terapia. Todos os dias olho pela janela a noite também, busco nossas conversas, aquelas que tínhamos a noite, quando a cidade desacelerava, a noite traz mais lembranças, baile do longuinho do Dunas, a boite do Direito, a lagoa do Laranjal, as infinitas trocas de confissões e risadas. A janela me transpõe ao sul, procuro te encontrar nessa breve viagem tempo/espaço, talvez a tão falada física possa me explicar o porquê te sinto tão presente nesse curto espaço de tempo, só sei que ele tem sido muito importante para mim, calmo ou agitado, tu estás comigo.