E então tu saístes de férias, longas, deixando-nos aqui atordoados sem saber para onde viajastes?! Quanta crueldade de tua parte em não nos contar isso, como somos idiotas, não é mesmo?! Estamos aqui firmes assistindo a exposição da tua vida por todos e por ninguém … Quem em uma teoria insana poderia achar que estás a passeio?! Não estamos fantasiando o teu desaparecimento, mas ainda não temos um corpo, ainda não temos um acusado, ainda não temos um culpado, não temos provas que estás morta… Então, por mais mínima que seja a chance de estares viva, em cárcere, vamos pensar no milagre da tua sobrevivência, mínimo, mas existente. Não importa que estejamos sendo julgados pela nossa fé, acham que não pensamos o pior?! A todo o momento esse terrível pensamento povoa as nossas mentes, já choramos intermináveis vezes por aquilo que não sabemos e nos assombra. Essa situação é um pesadelo constante, está corroendo cada um de nós que te amamos, sim, te amamos inexplicavelmente até quando estás sumida. Não conseguimos separar o antes e o depois, caímos na malhação de Judas como traidores, porque te amamos e vamos preservar e defender o que for que te diga respeito, porque assim tu irias querer, porque assim fizemos por mais de trinta anos uma com a outra, por lealdade, por amizade, por amor. O que te aconteceu nos interessa mais do que a qualquer outra pessoa na face da terra, principalmente a tua mãe, que precisa de consolo todos os dias para não cair. As suposições ficam a margem, comparadas aos nossos dias de padecimento e de amargura, não são nada, é resto, joga-se no lixo. A ficha já caiu há muito tempo, mas silenciar é o melhor a fazer, muito se tem a dizer, na devida hora, não é o momento, temos os nossos motivos que não são da satisfação de ninguém que não te conhecia, apenas nossos. No devido instante as máscaras cairão, a verdade inexóravel aparecerá. O nosso choro é doído, expressa o nosso sofrimento, diferente dos que irão chorar de remorso e compunção. Essa falsa noção que nos impingiram de férias é injusta, na pior ausência viva que estamos sendo submetidos, e é a pior piada que uma pessoa pode fazer a quem está sofrendo, para quem foi imposto o desaparecimento de uma pessoa amada. Rufem os tambores, longe, por favor, precisamos do nosso silêncio.