Sinto muito em ter que te dizer que a tia Maria partiu… A saudade a foi levando aos poucos, saudade de ti, como ela dizia, que levaram muito dela quando te levaram, ficou a tristeza e muita vontade de te encontrar, como isso não aconteceu, se deixou levar aos poucos, foi um ano duro e ela não suportou… Tristes dias vividos por aqueles que te amam, a vida tem sido dura, principalmente com a tua mãe, cada dia me surpreendo com a força que ela tem demonstrado, agora a vida impõe mais uma perda, a da irmãzinha dela, como ela diz, por mais que eu tente, não consigo entender.Espero que, dentro da crença que tu professavas, vocês finalmente se encontrem e possam estar em paz, finalmente…
Mês: abril 2016
Para Cláudia, com amor – por Lisa Siqueira
Conheci a Lisa de uma forma estranha, de uma maneira diferente, a luta pela Cláudia nos uniu. Pedi para ela escrever um texto, me dizendo porque há um ano também luta pela Cláudia, sem nunca tê-la visto. Chorei lendo, me emocionei com as suas palavras.
Esse texto é uma homenagem a todas as pessoas que buscam por essa grande amiga e mulher desaparecida, mesmo não a tendo conhecido, os meus agradecimentos e carinho a todos, vocês não esqueceram dela …
Para Cláudia, com amor.
Amiga… Sim, somos amigas! Apesar de nunca termos nos encontrado pessoalmente, somos amigas, como todas as mulheres deveriam ser, porque sabemos das nossas lutas internas e externas. O gênero nos une e nos faz conhecer umas às outras, mesmo sem nunca termos nos olhado nos olhos.
Então, amiga, não está fácil, sabes? Há um ano tu desapareceste da vida dos teus conhecidos e entraste na vida de centenas que nunca te viram. Há um ano, tu nos uniste, conhecidos ou não, em torno dessa causa: a de te encontrar.
Amiga, de lá para cá deu muita confusão, sabes? Muita briga, muita fofoca, muita encrenca mesmo. Mas, neste sentido, as coisas estão mais tranquilas agora. Só o que não mudou é a angústia de ainda não saber nada de ti. Todos os dias eu acordo, tomo meu café, pego meu note e acesso à internet, na esperança de encontrar alguma notícia a teu respeito. Um ano, amiga! 365 dias fazendo isso! E não faço isso sozinha. Eu sei que o Pedro conta a tua ausência todos os dias, lamenta a falta de notícias e sofre de saudade. A Adriana também. Eu não a conhecia antes, mas eu sei que ela já foi mais feliz por tua causa e que hoje ela anda bem abatida, porque tinha muita esperança de saber o que te aconteceu há muito tempo, lá, logo no início do teu desaparecimento e de te reencontrar, viva e com saúde. E a Dona Zilá, amiga… Nossa, Cláudia, a tua mãe é uma guerreira! Uma senhora com mais de 80 anos, doente, passando por tudo isso. Amiga, eu também sou mãe e meus filhos não moram comigo. Todos as noites eu deito a cabeça no travesseiro e penso neles, no que fizeram durante o dia, se estão bem, se estão felizes, se não lhes faltou alguma coisa. Mas eu sei que se pegar o telefone e ligar para eles, vou ter as respostas, porque eu sei onde eles estão. Já a Dona Zilá tem todas essas preocupações e não pode ter as respostas para aliviar seu coração de mãe, porque a sua filha querida lhe foi tirada, da forma mais desumana possível, mais cruel. E ela ainda tem outros sofrimentos ligados ao teu desaparecimento… Mas ela luta, viu amiga? Eu tenho certeza que ela luta por essas respostas porque uma mãe nunca desiste dos seus filhos, mesmo quando eles não compreendem isso, não aceitam ou são manipulados a não entender e não aceitar. As mães amam incondicionalmente e apesar de tudo. Por isto, algumas vezes elas erram… Bom, tu sabes disso, não preciso te explicar… Nós nos entendemos, não é?
Pois é, amiga. As coisas estão assim, suspensas até a tua volta, seja ela como for. Eu continuo observando tudo, refletindo sobre tudo, pensando muito em ti, querendo entender. Já tentei me afastar de ti algumas vezes porque é muito desgastante para mim. Tu sabes os motivos. Mas, amigas de verdade nunca se separam e nossa amizade é verdadeira e intensa. Estamos ligadas através do amor. Amor pela vida, amor pelos filhos, amor pela profissão de educadoras, amor por nossos homens, amor por nossa querida Adriana. A “vermelhinha” é porreta, hein? Identifico-me muito com ela. Gostamos das mesmas coisas, pensamos igual, olhamos a vida pelas mesmas perspectivas e temos a ti, que nos uniu.
Bom, amiga, vou me despedindo, dizendo “até logo”. Amanhã nos falamos novamente, em meus pensamentos e sentimentos. Vai ser assim, eu sei, até o dia que esse pesadelo chegar ao fim. Acho que não vai demorar mais muito tempo, não. A tua força nos levará às respostas, tenho fé. Então, amiga, até logo, até amanhã. Fica em paz, estamos cuidando de tudo por aqui, com muita dor, mas também com muito amor.
Grande beijo, amiga.
Com carinho, Lisa.
Dia branco
Hoje é assim que a Ufpel se vestirá, para lembrar que não te esqueceu, branco, acho que muitos irão como estavas nessa foto, de jeans. Como gostavas de te vestir assim, simples, confortável. A Universidade sempre foi a tua segunda casa, também foi minha, vários bons momentos vividos ali, será um dia branco. Eu, aqui de Brasília, também estarei assim, minha querida, minha irmã, minha amiga para todo o sempre. Não preciso lembrar de não te esquecer, vivi contigo cada dia desse ano, fomos e voltamos juntas do trabalho, me tornastes uma carola, tanto que eu rezei a cada momento, nos primeiros dias e meses pela tua vida, depois aos poucos o desespero tomou conta da esperança, aí minhas orações cresceram junto com o meu sentimento de perda e hoje resta uma grande tristeza, por tudo o que poderia ter sido, que fica perdido, oro para que estejas bem. Tão feliz, sorrindo para a vida e para o futuro, foi assim que te vi no nosso último encontro, é assim que vou te levar sempre comigo. Ainda conversarei muitas vezes contigo, vou te chamar, brigar e rir com as minhas lembranças. Isso ninguém poderá tirar de nós, o teu significado e importância nas nossas vidas. Pobre vida insignificante daquele que ousou te tirar de nossas vidas, não conhece o valor do amor. Fica em paz minha amiga!