Carta da D. Zilá, no dia do seu aniversário, para a sua filha Cláudia

Claudia minha filha, 3 anos, 1095 dias sem a tua companhia, e as nossas lágrimas ainda não secaram. Quando lemos o Evangelho sentimos a tua presença na emoção que nos invade.

Não suportamos mais a incerteza da falta de respostas desse crime bárbaro, praticado contra ti.

Nossa família foi destruída, pois nos tiraram o que tínhamos de mais precioso. Deus a de mostrar as autoridades o caminho a tomar, para terminar com a impunidade e que a justiça seja feita. O que nos consola é a certeza que a justiça divina não falha.

Que Jesus te abençoe e te guarde, que Maria Santíssima te cubra com o seu manto sagrado!

Te amo!

Mãe

Quando o luto vira luta

Eu não conhecia a Marielle, a Romilda ou a Sandrinha, mas eu conhecia a Cláudia.

A brutal execução dessa vereadora e de seu motorista, o Anderson, mexeu profundamente comigo. Me fez reviver um dos piores acontecimentos da minha vida, o desaparecimento da minha amiga e irmã Cláudia Hartleben, sem que se tenha qualquer resposta da investigação.

Há muito tempo eu penso que as mulheres podem fazer a diferença, somos a maioria que educa no Brasil, somos quem pode mudar o nosso país.

Desde cedo eu estou muito indignada e triste, posso dizer que a situação da violência contra as mulheres tem me incomodado profundamente há anos.

Hoje eu estou chorando pelas mulheres assassinadas no Brasil, pelas execuções, feminicídios, por toda a violência contra os nossos semelhantes.

Até quando?! Quem se acha no direito de cometer atrocidades sem punição?!

Espero que a Marielle Franco, que lutava pelos seus semelhantes, tenha a justiça que tantas mulheres nunca tiveram, inclusive a Cláudia.

Cláudia vou te contar duas histórias muito tristes…

Estava pensando um texto bem legal para fazer sobre nós mulheres e o nosso dia, para publicar no meu blog, Pós50, isso foi interrompido pelo anúncio de dois feminicídios aqui em Brasília, dentre tantos ocorridos no Brasil, como o teu.

Primeiro foi a Sandrinha, uma capoeirista, que nos anos 90 desenvolveu seu projeto de ensinar capoeira para crianças em praças públicas no Guará, cidade satélite do Distrito Federal. A vida depois fez dela uma moradora de rua, cujo companheiro colocou um final, sufocando-a e colocando fogo em seu corpo num contêiner.

Romilda era uma mulher que viveu todos os seus sonhos e realizou conquistas em sua vida, ser profissional realizada, mãe e dona do próprio negócio. Ontem, 6/3/2018, seu marido colocou um ponto final no processo de separação.

Ambas foram mortas por seus companheiros, o da Sandrinha saiu caminhando pela rua, como se nada tivesse acontecido, depois de colocar fogo no contêiner com o corpo da companheira. A Romilda foi morta a tiros pelo companheiro que depois se suicidou deixando dois filhos um de 3 e outra de 4 anos.

Duas histórias muito diferentes com um mesmo final trágico, ambas mulheres mortas por pessoas com quem compartilhavam a vida.

Dos 4.473 homicídios dolosos de mulheres, ocorridos em 2017, no Brasil,  946 são feminicídios. Estatísticas são números frios, quando se dá nome é que se percebe a tristeza dessas histórias.

Muitas pessoas questionam porque existe um dia só das mulheres, acredito que é porque existem problemas de discriminação, sexismo, feminicídio, infanticídio de meninas. Os problemas não são causados pelas mulheres, a maioria discriminada.

Minhas condolências às famílias dessas duas mulheres.

Feliz 8 de março – dia da mulheres Cláudia!