Homenagem

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foto Diário Popular de Pelotas

Tem tempo de falar e tempo de calar, passo os meus dias intercalando entre um e outro. Então, nos tempos de calar fico também sem escrever, é difícil conviver com a tua ausência. Mas não tem como se calar diante da homenagem que os teus alunos fizeram ontem, no momento da formatura deles, quando tu deverias estar presente como homenageada. Lindo reconhecimento a quem foi uma apaixonada pela carreira e pelos alunos. Eu não estava lá, como gostaria, para assistir, a tua mãe foi para ver teus alunos se formarem, a Eliza a levou, como o fez tantas outras vezes, sempre que ela precisou. Porque o nosso amor por ti está sempre conosco, a tua ausência também nos acompanha. Tudo é muito triste, saber que te roubaram esses momentos nos traz tanta indignação e revolta. Esse carinho dos formandos é um cálido sopro de brisa em nossos corações, em meio a tanta saudade.

O tempo

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O tempo, o senhor da razão, não lembro de quem é a frase, mas espero mesmo que depois de tanto tempo, ele possa trazer alguma explicação para tudo o que aconteceu… Fico imaginando quantas pessoas procuram essa página atrás de algum esclarecimento ou notícia sobre a Cláudia, não as tenho, apenas escrevo para que o limbo não tome conta. Estamos na margem de uma compreensão, ou melhor, a margem, de fora das possíveis elucidações… O uso de tantas reticências no meu texto tem uma explicação, tudo continua na mesma, não existe um ponto final.

Carros, uma paixão

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Dirigindo para o trabalho hoje lembrei do dia que me ligastes para falar da tua nova aquisição, a ASX, me peguntastes: conheces?! Não, eu não  conhecia, aí me dissestes que era da Mitsubishi, confundi tanto o carro quanto a marca, lembrei de outro que eu tinha gostado muito dois anos antes, o SX4, da Suzuki. Sempre gostamos de carros, mas tu eras apaixonada por eles, dirigias desde cedo, eu só fui dirigir aos 25 anos. Acho que era a sensação de liberdade na direção. Sempre que uma das duas trocava o seu ficávamos um bom tempo falando das particularidades do bem adquirido, por duas vezes te acompanhei até uma concessionária para a retirada do carro. Carros para nós duas significavam um degrau a mais, uma conquista pelo nosso esforço, o meu primeiro veio depois de 5 anos de trabalho. A ASX pra ti também representou uma conquista, era exclusivamente teu e tivestes tão pouco tempo para usar e usufruir. Quase sempre lembro de ti quando estou dirigindo, o que acontece muito e todos os dia, pelo tempo que levo para ir e voltar do trabalho. As lembranças vem de circunstâncias diversas e a motivação é qualquer uma, hoje foi um carro branco que me ultrapassou. Também tenho sonhado muito, os sonhos são mais tensos, sempre buscando discernir o que aconteceu contigo, investigando, querendo encontrar uma solução, o final é sempre o mesmo, a falta de resposta e muitas indagações a mais e uma eterna pergunta, esses sonhos representam alguma coisa?! Porque lembro apenas de trechos e passo o dia tentando recordar os detalhes, quando falas nos sonhos comigo é mais tenso, porque minha tendência é pensar que possa ser uma mensagem. Mas as recordações, como as de hoje, são boas, te vejo sorrindo, dirigindo e feliz pelos caminhos da vida, como tudo deveria ser…

Reverso de uma Gestação

 

Gestar é incrível, a gente sente uma vida crescendo e se acha  mais viva ainda. Mas hoje faz nove meses que estamos gestando dor, perda, desespero, indignação, tristeza, por vezes apatia outras revolta. Nada vai nascer, é uma gestação dolorosa, que ninguém gostaria de estar no lugar. Inexplicável tudo o que passamos e sentimos, nesses tempo, nesses 9 doloridos meses. Não haverá nascimento, não temos a alegria nem a expectativa do gestar. Nada se sabe, nem o que aconteceu, nem o que está por vir. Há um profundo silêncio calado em nossas vidas. Vidas que seguem, que só são acalentadas pela solidariedade de quem amavelmente estende as suas mãos e doa o seu tempo para amenizar tanto sofrimento. Tem sido uma gestação bipolar, poucos os que conseguem entender a mesma dor tem força para gritar ou para calar,  para tombar ou para levantar. Envergamos como vime e endurecemos como um carvalho. Não queiram entender, nem nós encontrarmos explicação para a vida que estamos levando.  Muitas foram as noites insones, noutras caímos em um sono profundo de exaustão. Mas o mais inexplicável ainda continua sendo o desaparecimento dela, essa gestação do vácuo, da perda, do nada.  As vezes é a oração que nos sustenta, outras vezes é preciso ter coragem para admitir que não conseguimos manter o equilíbrio e buscar ajuda, noutras somos a ajuda que ampara quem está mais debilitado, assim temos percorrido esses nove meses, sendo amparados e amparando. Amigos não faltaram, curiosos indesejáveis também não. Mas tenho consciência dos maravilhosos amigos dessa triste jornada e para eles tenho um enorme obrigada e um sentimento imenso de gratidão.

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Sei que muitas vezes pareço estar deprimida quando escrevo, não é isso, é só tristeza mesmo, por tudo o que aconteceu, nunca me imaginei numa situação dessas. Já passei por muitos acontecimentos tristes em minha vida, mas nenhum dessa proporção. Mortes nos acompanham pelo decorrer da vida, é aquilo que sabemos desde sempre, um dia morreremos, sentimos a perda, choramos e um dia seguimos em frente, porque a vida é assim, tem que se seguir… Mas o desaparecimento da Cláudia não estava nesse script, alguém simplesmente decidiu sumir com ela, sem pensar em nenhuma das consequências, na fatalidade que seria para as famílias envolvidas. Quantos planos pessoais perdidos…  Quantos projetos na Universidade que tiveram o seu rumo mudado, porque por mais que você compartilhe os seus conhecimentos, tem caminhos que quem desenvolvia estava ainda aprimorando, ainda não divulgados, estão sendo consolidados interiormente. Externalizo a minha tristeza como uma forma de cuidar dela e não deixar que vire depressão, as vezes de maneira chorosa, outras virulenta com os acontecimentos e percebo muitas pessoas se identificando com aquilo que está escrito. Existe com a tristeza uma profunda indignação, com o tempo que foi roubado, com as vidas transformadas negativamente, com o que deixou de ser feito, com as pistas perdidas, com a falta de notícias.  Caminha conosco uma fé inabalável, não sabemos o que efetivamente aconteceu, quem é o culpado, mas seguimos em frente buscando as respostas, lutando pela Cláudia. Fico imaginando como se comporta a consciência de quem praticou esse desaparecimento, se é que existe alguma consciência, porque quem o fez não deve ter a mesma humanidade de quem está sofrendo.

Feliz 2016 Cláudia!

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Daqui a pouco vamos entrar em 2016, tenho uma certeza, não terei nenhuma saudade do ano que finda. Precisei muito dos meus, muito dos amigos, muito de Deus, então, só posso agradecer, tive todos. Há pouco conversava com a tua mãe, ela me disse que é Deus que a mantém, concordo, só Ele para fazer isso todos os dias. Estava vendo uma tirinha que dizia que em 2015 não tive tudo o que queria, mas sim o que eu precisava, confesso que ainda não sei o que eu precisava, mas certamente não era ver a minha amiga desaparecer. Ainda não sei também o que eu deveria ter aprendido com essa experiência. Mas uma coisa eu mudei, não brigo mais por aquilo que não é importante, sei relevar, não sei se é porque simplesmente não tenho a motivação necessária para brigar. Enfim, isso é novo pra mim. Tenho os meus desejos para 2016, quero respostas, quero coragem redobrada, quero a mesma solidariedade que tive dos próximos, quero os meus amigos por perto, quero a minha família segura, quero continuar a ter o amor que me foi dedicado, quero que Deus continue presente em minha vida, me dando a fé de que tanto precisei e o alento necessário. Acho que assim dou conta! Feliz Ano Novo Cláudia, na passagem estaremos juntas, porque te trago no meu coração…