Bofetada

Essa semana eu estava no hospital acompanhando minha mãe, que tem uma médica maravilhosa doutora Vera Magally, e em determinado momento ela me falou do caso da Cláudia, por conhecer a minha amizade e também por ser professora da mesma universidade. Me disse: Adriana tu não superastes isso, alguém está te ajudando como médico?! Aí eu respondi que tinha um cardiologista, um endocrinologista, um neurologista, um ginecologista, um otorrino, médicos como ela não, que trata da minha mãe como um todo, eu só tenho médicos que tratam partes da Adriana e não Adriana como um todo.

Quando meu irmão morreu, eu falei pra ela, foi muito triste era meu único irmão, gravemente doente, eu entendi o momento terrível na vida dele, triste me conformei. O desaparecimento da Claudia, da minha irmã, aquela que universo me enviou, foi uma bofetada na minha cara. Essa bofetada dói e arde até hoje. Eu não consigo me recuperar, por mais que eu tente.

Toda vez que eu vou a Pelotas eu volto para despedidas, no caso da minha mãe, agora com 92 anos, e que já superou tantos acometimentos naturais da idade e com a ajuda da Dra. Vera, são sempre pequenas despedidas.

Eu sei que em breve eu terei que me despedir de verdade, entenderei pela idade, e, por tudo que ela já viveu, eu serei grata.

Ainda não consegui ter esta grandeza de sentimento no caso da Cláudia. Quem fez isso com ela, no auge da vida dela pessoal e profissional, não atingiu só a ela, atingiu a dona Zilá, a tia Maria e a todos que a amaram e a amam e não a esquecem.

D. Zilá

Eu estive com a tua mãe no sábado, fui a noite tomar um café com ela, que continua sendo uma das mulheres mais gentis que eu conheci. Nossa, que rica mesa ela no serviu, simples, mas maravilhosa. Tinha bolo, uma torta de maçã, tinha pão, manteiga, geleia, presunto, queijo, tinha também pão de queijo, carolinas, e um café com muito carinho!

Lembrei de uma ocasião que minha mãe, muito doente, iria para a UTI, mas ainda estava lúcida, eu perguntei se ela queria alguma palavra de conforto e ela pediu uma única, a da tua mãe D. Zilá, que imediatamente pegou o seu carro e foi até o hospital para confortar a minha mãe, tendo em vista a gravidade. As duas oraram juntas, minha mãe foi tranquila, passou muitos dias na UTI, mas saiu de lá bem e forte.

É incrível como, apesar de tudo que a D. Zilá tem passado, como ainda se mantém gentil, digna e de uma aceitação religiosa imensa.

Sempre que eu for a pelotas continuarei indo lá na tua mãe, mas ainda não consigo sequer olhar pra tua casa, nem penso em pisar nela em algum outro momento, quero manter a única lembrança que tenho de lá, a tua, que fazia aquela casa brilhar pela tua presença.