O que há de novo?!

Oi, desculpe o atraso em escrever, o tempo tem passado muito rápido e é fácil se perder nele, pesquisar coisas pra ti e sobre tudo o que aconteceu demanda boa parte do meu dia. Aliás, como esse tempo tem nos atropelado, espero que pra ti tudo esteja passando rápido também e que logo tudo seja resolvido para que voltes bem. Surgiu agora um fato novo, um perito quer investigar o teu desaparecimento, não sei te dizer se é bom ou ruim, acho que vai, no mínimo, agitar nossa cidade. Teu desaparecimento é tão estranho, tão insólito, realmente desaparecestes no ar, no meio da noite. Isso já me tirou muitas noites de sono, faço retrospectivas, penso em lugares, hipóteses, motivos, possibilidades. Conclusões, nenhuma, nada de novo, nem sei mais por onde andar, o que pensar … Além de motivação pessoal, já pensei também em profissional, algum dos teus projetos poderia ter causado isso?! Tinhas muitos… Conhecia as pessoais, quero crer que estejas bem, que logo possamos te ter entre nós. Ah, ía me esquecendo, tem um novo promotor a frente do teu caso, agora temos a soma de um excelente advogado com um ótimo promotor, gente de primeira Cláudia, como tu, estarias bem feliz, sempre fostes uma profissional de primeira. O novo promotor soma contigo em fé,  um duplo motivo de contentamento, esse conhecimento é fundamental pra ti e para a tua mãe. Não quero deixar nenhum detalhe de tudo o que tem acontecido de fora para que possas acompanhar conosco, tenho medo de esquecer. Estamos esperançosos com as novidades e os novos fatos que tem ocorrido, creio que agora é só uma questão de tempo para voltares pra nós. Quando eu for em julho, me espera com a lareira quente, o chimarrão pronto,  vamos virar a noite colocando tudo em dia, vais então me dizer o que há de novo…

Registro

Mais um final de semana se passou ainda sem notícias tuas. Acabei de ler uma mensagem carinhosa a teu respeito e resolvi te escrever mais uma vez, claro, ainda não podemos conversar, então vou registrar aqui minhas palavras, com a firme esperança que um dia possas ler, a noite, antes de dormir, sempre penso em ti, aí, como diz a música, elevo a Deus uma prece, espero que Ele esteja te cuidando como mereces. Verdadeiros amigos tem também seus desentendimentos, rusgas, a nossa amizade, nesses mais de 30 anos,  também as teve,  mas a amizade possui uma estrutura mágica, o esqueleto racha,  quebra, mas solda, tão firmemente, porque os elos são fortes, os laços de amor, fraternidade, solidariedade, família,  nos trazem de volta. Sempre foi assim, ter uma a outra sempre foi mais importante, qualquer novidade, mudança, tristeza nos faz procurar aquela com que vamos trocar uma idéia, no meu caso,  a ti, e o inverso era mais do que certo. Quantos incontáveis dias foram passados juntos na família uma da outra.  Meus filhos foram cuidados pelos teus pais, a casa que eu buscava para recuperar o equilíbrio era a tua, o pátio cheio de árvores,  tão bem cuidado pelo teu pai junto com a tua mãe, era um refúgio cheio de magia. A simplicidade aliada à beleza trazia de volta o firme chão para pisar. Não te contei ainda Cláudia,  em julho estarei em Pelotas, vou ver a tua mãe e o teu filho, a quem me honrastes tornando-me sua madrinha. Sei que, se ainda não tiveres voltado, a magia não estará lá, morro de medo de perder o chão e peço que Deus me dê a força necessária para o momento. Minha esperança me consola todos os dias, preciso dela e ela me nutre. Estou registrando tudo o que eu gostaria de compartilhar contigo, assim terei a memória desses difíceis dias sem ti. Meu pai falava que a família o diabo nos dá, os amigos Deus nos manda para tornar a vida agradável, no meu caso ganhei uma amiga e tu te tornastes uma irmã por mim escolhida, mais nova, querida, amada por mim e pelos meus. Como te disse, domingo a noite sinto mais a tua falta, então bate uma melancolia, não repara, sempre fui sentimental. Rsrsrsrsrs, minhas frases estão me lembrando músicas, acabo de lembrar do sentimental eu sou… Vou encerrar por aqui hoje, logo vai ser segunda e temos que ir em frente, espero que tu nos alcance rapidinho, porque ando devagar porque já tive pressa …

Organização

11067489_1712641302296855_5116593192458050777_n

As pessoas tem formas diferentes de se organizar, a tua organização era mais mental, não que houvesse bagunça nos teus espaços, eles eram organizados, mas dividias as coisas principalmente o limpo e o sujo, o ilibado e o contaminado… Lembro de quando a mãe adoeceu e foi hospitalizada com septicemia, eu estava, mais uma vez, hospedada na tua casa e ao chegar do hospital preferia usar o banheiro dos fundos, porque já te entregava a roupa contaminada para lavar na máquina com água quente e ir direto para o banho, era quase um protocolo, fazíamos isso todos os dias. Tu, como cientista, entendias e seguias perfeitamente as regras de saúde, parece uma descrição de uma chata, mas não era, pelo contrário, estavas sempre pronta a ajudar e rir das coisas. Eu estava em Pelotas quando recebestes o novo laboratório, terias uma visita internacional e querias o lab. 10 perfeito, aí lá vai a Cláudia tapar os buracos na parede, emassar, pintar, parecias o teu pai nessas horas, botando a mão na massa. Não que tudo tivesse que ser impecavelmente arrumado, mas tinha de ser limpo e organizado para as pesquisas. Em casa podia ter várias canecas de café na pia, colherinhas atiradas nela, chimarrão, fuligem da lareira, mas era limpo, mesmo com gatos e cachorros circulando, todos adotados ou salvos de um atropelamento. Tudo e todos eram cuidados por ti. Por isso as contradições de comportamento não batem, pequenos, quase ínfimos deslizes, mas não batem, com essa tua organização, com o teu jeito de agir, era realmente um protocolo, a pergunta que não quer calar é, fostes tu para nos dar o que pensar ou foi um resvalo de quem fez?! Vários são os nossos questionamentos nesses dias, aos poucos as notícias diminuem, as pessoa interessadas vão seguindo seus caminhos, o rio segue o seu curso, mas tu, esses detalhes e as interrogações continuam vívidas para quem está sempre contigo, para quem se comprometeu internamente que tu vais voltar, nada é perfeito, o fazer não o é, mas o que sentimos por ti é, estamos te buscando, em pensamento, em  detalhes, em investigação, um ínfimo sinal pode te trazer para nós, por isso, estamos sempre atentos, pode ser apenas um lampejo, que a tua luz te traga para nós!

Intercalados

adriana_claudia

 

Há alguns dias venho tendo lembranças de tudo o que fizemos juntas, as vezes uma desencadeia outra e assim vai… Lembrei que cantávamos as músicas do Kleiton e Kledir, Almondegas e qualquer coisa que nos viesse a cabeça, Vento Negro e Viração eram quase um hino. Torrada (o nosso misto) de lanche, gemada no meio da tarde (vício teu), pão torrado com doce de goiaba que teu pai fazia com as frutas do verão, tu me ensinavas que um bolo deve ter a forma forrada com papel amanteigado para não colar e, claro, eu não fazia e colava, motivo para depois rechear com muito doce e a tua indignação porque acabava perfeito e gostoso no final. Meus filhos e eu recebemos das tuas mãos várias injeções, rs, sim, tinhas uma habilidade ímpar como enfermeira. Quantos passeios, lagarteadas ao sol, chimarrão, cafés da tarde. É impressionante tantas coisas que fizemos, as faxinas no Laranjal, a comida na praia, dançar no Direito, festa para as crianças, incontáveis recordações, amigas de 3 décadas tem muito o que lembrar… Quantas habilidades Cláudia, fostes técnica de saúde, professora de educação física de inglês, apicultora, doceira, baleira de mel, motorista, artesã, jardineira, veterinária, cientista, professora universitária, é muito, não consigo nem relatar o todo. E aí me pego pensando que, talvez,  nada mais poderá ser feito ou recordado. Que aperto no peito, dá até falta de ar… São tantos pensamentos intercalados bons e ruins, mas as possibilidades vão se esgotando e as idéias se afunilam e assustam, sobre o que foi e quem foi. Como que toda uma vida se torna, de repente, uma tragédia humana? Quem se deu o direito de te subtrair, quem se acha tão onipotente para subjugar uma vida? Quem se utilizou da força e astúcia para te tirar de nós, muitas perguntas, por enquanto sem respostas, mas ninguém é onipotente, ninguém é tão astuto, ninguém tem o direito de fazer com qualquer pessoa o que foi feito contigo! Dentro de mim ecoa e vibra uma voz de indignação, ainda não rasgou o peito, porque ainda não sei, mas quem realmente sabe o que te aconteceu porque o fez sabe, não haverá impunidade, pode não ser agora, mas vai pagar! Por enquanto lembro…

Nada

fb_img_1462157856866.jpg

Aqui estou eu novamente a procura de respostas… Todos os dias é a mesma coisa, acordar, tomar café, olhar as notícias e, claro, procurar notícias tuas e, se tiver, publicar. Mas o nada de ti insiste em existir, essa é a luta há 67 dias, não conto o dia do teu desaparecimento, eu ainda não sabia… Existe uma rotina nesses dias cansativa, ignorar que tu não estás aqui é muito difícil, muitas vezes me pego pensando que sim, nada aconteceu, ato falho do meu cérebro no desejo que tudo estivesse normal, aconteceu o mesmo antes quando o meu pai morreu… A circunstância do teu sumiço é tão fora da casinha, como pode?! Ninguém sabe nada, ninguém viu ou escutou alguma coisa, não tem pista, o que é isso minha gente?! Para o bonde que eu quero descer, não quero mais brincar de esconde esconde… Sabe o que é estranho? As pessoas não acreditam que não sabemos de nada, que tudo o que sabemos já foi publicado, que simplesmente temos que conviver com o limbo, com o nada, mas o nada é tudo, és tu, é a tua falta. E agora o que fazemos?! Ficar aqui do longe acompanhando as investigações é horrível, mas já te falei, a vida não parou… O meu trabalho está aqui e tenho que o fazer, a minha casa, a minha vida… Lá em Pelotas a Universidade, a Biotec continuam funcionando, os alunos estão em aula, as pesquisas estão sendo feitas, mas para quem te conhece e te ama a vida deu um tranco, uma freada, tem sim uma coisa parada, o que acontece ao lado é uma outra dimensão, entendes?! Estamos vivendo duas vidas paralelas, a rotina da vida e a falta que estás fazendo na nossa vida. Cláudia, há 67 dias vivemos na terceira dimensão, acho que estamos um pouco loucos, por favor, peço, não nos discriminem, estamos aprendendo a viver sem ela… com o nada!

Vamos conversar?

claudia

 

Sei que estou falando sozinha, mas é o que posso no momento, espero que de alguma forma meus pensamentos e sentimentos te cheguem … Primeiro foi a chuva e agora o tempo está esfriando, a tua mãe sempre me pergunta como tu estás com essas mudanças,  respondo, sem saber, que alguém te deu um cobertor, torcendo para que isso tenha acontecido, mas o que posso dizer para ela que a conforte?! Desculpa se não é verdade, mas não sabemos o que está ocorrendo, será que ainda existe humanidade em quem fez isso contigo? Estás aquecida, estão te dando comida quente? Quando sairam contigo, te levando sem que quisestes o clima ainda era agradável, nossa cidade tão úmida, mas tens uma boa saúde, sempre brigavas comigo dizendo que eu não me cuidadava e por isso adoecia. Quantas vezes eu fui a Pelotas e ainda não tinha esfriado tanto, mas a noite acendias a lareira para que eu ficasse aquecida, acabava dormindo na sala de TV, só para ficar curtindo o calorzinho, ali colocamos a nossa vida em dia, meses longe tentando atualizar em uma noite. E assim foi o trabalho de conclusão de curso, a monografia, a dissertação, a tese,  tudo regado à café, chimarrão e lanches na madrugada. Em julho eu volto a Pelotas, ai que medo de encontrar a tua casa vazia, o pátio cheio de folhas, vi assim na televisão, que triste, sempre estava impecável, a tua interminável vitalidade impedia que a casa, o jardim, o pátio não estivessem cuidados. Ainda achavas tempo para restaurar os móveis antigos de família, fazer pintura, artesanato.  Meu café da manhã é sempre tomado na bandeja que pintastes para mim, sentada no sofá estás sempre presente, há anos é assim, agora tenho medo de estragar a bandeja… É como se te perdesse aos poucos, isso não pode ser assim, estou muito brava com quem te levou, estou triste, apática, o que será de nós?! Estamos levando a vida, mas alguma coisa não está certa. Sim, tu não estás junto de nós, está tudo errado, volta, assim está muito difícil!

Dia 9

Oi Cláudia, como não posso falar contigo,  vou escrever. Dia 9 irá completar o segundo mês do teu desaparecimento e confesso que não lembro de ter tido uma experiência tão assustadora na minha vida. Tem outras bem tristes, perdi meu pai, perdi uma filha ainda grávida, mas nas mortes os ciclos se encerram. Como amiga compartilhastes outros períodos difíceis para mim e o teu apoio foi fundamental. Agora estou aqui me perguntando o que é para fazer com o teu sumiço.  Passo os dias tentando conciliar a minha vida com o teu desaparecimento, me perdi no dia em que recebi a notícia. A vida continua, mas é tão difícil prestar atenção no que acontece, consigo fazer tudo no automático, nos intervalos procuro notícias, alimento com o que posso as redes sociais, porque não quero, nem posso deixar, que as pessoas te esqueçam, acontece que a vida delas também continuou… Dois meses, nesse mundo maluco em que vivemos, é muito tempo Cláudia, as pessoas tem seus compromissos, como pedir para que continuem prestando atenção em ti?! Bah guria, essa é uma das expressões que mais usas, bah guria, que desespero!  Me pego te pedindo ajuda, será que conseguistes deixar alguma pista que não notamos? És tão inteligente… Penso e repenso cada detalhe da tua vida, sim, terás que me pagar o aluguel das 20 horas diárias que estás ocupando a minha mente. Eu perdoo a dívida na tua volta, sei que sumir não foi a tua intenção, diz de quem foi, dá um sinal. Iremos dar um jeito.  Dia 9 a tua ausência vai doer um pouco mais, não demora!