Manoel

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A semana de trabalho se iniciou novamente, não sei dizer se o final de semana ou o início dela muda os nossos sentimentos, o que muda é o tempo para pensar em tudo. Manter-se ocupada é essencial, seja rezando, fazendo compra seja no mercado, açougue, onde for, cozinhando, limpando; durante a semana lendo processo, respondendo email, preparando agenda, mas se ocupando sempre. Mas aí entram os sonhos tumultuando, foram vários em poucos dias, mesmo dormindo o teu desaparecimento se faz presente, não há descanso, nenhuma hora sequer… As orações tem sido muitas, todas as aprendidas pela vida, conversas com Deus, mas uma me é recorrente, Ave Maria,  para duas Nossas Senhoras a de Fátima, te trouxe um terço de lá, e para a das Graças, a quem minha madrinha de batismo me consagrou. Essas orações aliviam a alma, trazem um pouco de tranquilidade, não resolvem o teu desaparecimento, por enquanto, mas trazem o refrigério necessário ao momento. Será que um dia teremos uma explicação, me pergunto sempre. Sempre me vem a cabeça a tua mãe, como ela aguenta tudo isso?! Como mãe tento me colocar no lugar, me apavoro… Conversar com ela me acalma, me faz presente contigo, buscamos um consolo mútuo, mas tento dar mais, sempre mais, sei o quanto ela precisa, então, sempre estarei presente. Leio sobre a morte de um homem desaparecido em Pelotas, milhões de pensamento me invadem de uma só vez, enchendo a minha alma de angústia, então me socorro daquilo que me faz bem, um amigo, pode ser pela internet, não faz mal, junto uma oração de novo, mais um dia de ausência somado de aflição.  Aí, como sempre, quando a inquietação não me deixa, abro o blog, teclo freneticamente, para respirar, atirar fora toda a perturbação, amigos leem, trazem palavras de conforto, muitas vezes não precisam nem falar, sinto que comungam da preocupação contigo, nunca te viram, mas sempre te amaram. E Manoel de Barros ecoa em mim: tem mais presença em mim o que me falta. Me traduz…

A espera de um milagre

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Vai ser muito difícil publicar o texto de hoje, quando comecei a escrever no blog sobre a Cláudia, tudo o que me ocorria no momento, lembranças, acontecimentos, percepção, sonho era imediatamente escrito, nada revisado e assim publicado.  Depois da publicação eu lia, nunca mexi na forma, apenas corrigi a ortografia. Esse não é um texto para ser copiado e publicado em outro lugar, apenas para ser lido aqui no blog, compartilhar os meus sentimentos sobre o que aconteceu com a Cláudia, foi a maneira que encontrei de conviver com essa dor absurda. Por isso peço respeito. Sei que me estenderão ao lerem abaixo.

Estava sonhando contigo, um pouco antes de acordar hoje. Percebi que o meu celular estava desligado e ao ligar que tinha mensagens do Pedro, sempre nos falamos por Whatsapp, mas eram recados da operadora, não foi estranho me tele transportar para Pelotas, sonho aceita tudo, para o meu antigo quarto no apartamento da Anchieta, vocês dois estavam conversando naturalmente, mas eu sabia que a tua presença era só uma visita, assim senti,  tinhas acabado de narrar um texto para o Pedro publicar, nao li, te perguntei várias coisas,  como estavas, quando voltavas, tudo que atualmente nos assola. Com calma respondestes, está tudo explicado no texto, vais ver.  Levantastes da cadeira embaixo da janela, te despedistes do Pedro deitado na cama, ele levantou e saiu do quarto. Peguei a tua mão e beijei, as minhas lágrimas corriam, te falei que as mãos estavam frias, surgiu um meio sorriso na tua face, sem graça, então, perguntei quando voltavas e me respondestes olhando bem nos olhos,  vocês estão esperando um milagre. Não foi bom acordar, estou tentando interpretar meu sonho, saudade, uma mensagem tua, meu inconsciente. Estou aqui chorando e pedindo para Deus esse milagre.

Margaridas

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Sabes que a minha escrita não é regular, ela acontece quando algo me inspira, não que eu seja dada a grandes escritas, nada disso, sou corriqueira, escrevo sobre sentimentos, acontecimentos, lembranças, apenas isso… Então essa noite tive um sonho muito estranho, com uma pobre mulher chamada Margarida, pobre, desfilava publicamente em um caminhão, em sua cintura um cinto de ferro com pregos, uma violência com a dita, ao acordar me incomodei, diziam que assim estava porque fora criada daquela maneira e fizera o mesmo com a filha, porque só aprendera a viver assim. Não sei porque associei isso com o teu desaparecimento, margaridas foram flores presentes na minha infância, associadas com lembranças boas, o sonho foi agoniante. Apenas recordei de alguns comentários a teu respeito e do teu sumiço, que a mídia só dava tamanha cobertura porque eras rica e de sociedade…, rsrsrs, tua vida sempre foi tão simples, tua família sempre viveu do árduo trabalho, desde a época de teus avós, nenhum luxo, pequenos confortos que a antiga chácara de teu avô, agora diversas casas da família, proporcionava, frutas, madeira, ovos… por aí.  Rica não, vivias do teu trabalho, conquistas de labor, uma vida confortável. Sociedade, frequentavas a tua família, o teu circulo de amigos e os colegas da universidade, teu nome já saiu no jornal, por conquistas profissionais, pelo esforço de tuas pesquisas. Vejo uma semelhança entre o desfile da Margarida e o teu desaparecimento, a exposição pública de vocês duas, uma desfilando em carro aberto, outra tendo sua vida exposta, pessoas tentando descobrir o que não há para ser descoberto. A polícia e o Ministério Público fazendo o seu trabalho como deve ser feito, com discrição. A Margarida sendo achincalhada pelos transeuntes, que nunca a conheceram e sequer entenderam ou entenderão a fatalidade a que foi exposta na vida. A tua fatalidade te expôs. Duas tristes realidades, a do meu sonho e a do teu sumiço. Meu sonho me inquietou, teu sumiço me assola!

Limonada

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Então, é mais ou menos assim, a vida me deu limões e não consigo transformá-los em limonada. Esqueci a receita, está perdida no meio dos sentimentos que se alternam com as horas. Muitas coisas me fazem lembrar de ti de maneira inusitada, marcas de automóveis, sim eras louca com carros, motos, caminhões; determinado tipo de comida, estrogonofe, sopa de ervilhas, tortilha de batata, coisas que fazias quando cozinhavas a noite; lareiras; artesanato; são tantas lembranças que me tomam no decorrer do dia. Descobri que várias coisas que aprendi na vida e ditados que eu conheço são em vão diante de uma situação inusitada como o teu desaparecimento. É necessária uma força incrível para sobreviver todos os dias, não sei como tua família tem suportado tanto sofrimento. A situação por si só já é bem difícil e dolorida, mas pode piorar um pouco mais, é só juntar frieza, desumanidade, crueldade, falta de misericórdia, malignidade, perversidade, improbidade, preciso adjetivar mais?! As pessoas que não estão diretamente e emocionalmente envolvidas agem e demonstram tal pusilanimidade, covardia, chutam cachorro morto. Me pergunto como esse comportamento vil se instala onde deveria haver piedade. O escárnio poderia ser varrido da face da terra, diante da dor e do sofrimento. Felizmente, temos os amigos solidários que mandam mensagem, manifestações, recados, pequenos mimos que tornaram esse dia-a-dia mais ameno, que afagam as nossas dores, que gostam de ti e de nós por nada, a eles os meus constantes agradecimentos.  E, diante da prova que a vida nos impôs, aprendemos que navegar é preciso, viver não é preciso. É como se viver, se sentir alegre fosse pecado depois do teu desaparecimento Cláudia. Claro que os momentos de alegria e felicidade existem, mas como que de imediato vem a culpa, essa nossa tradição judaico-cristã faz isso, sempre nos remete esse sentimento de culpabilidade, só por estar vivendo os dias, nada mais. Vamos para 140 dias, tantos limões e nenhuma limonada, nada que venha amenizar a garganta diante do seco que se instalou.

Nelson Rodrigues

FB_IMG_1440331421691Falam de tudo. Da moral, do comportamento, dos sentimentos, das reações, dos medos, das imperfeições, dos erros, das criancices, ranzinzisses, chatices, mesmices, grandezas, feitos, espantos. Sobretudo falam do comportamento e falam porque supõem saber. Mas não sabem, porque jamais foram capazes de sentir como o outro sente. Se sentissem não falariam. Nelson Rodrigues

Hoje não haverá um texto meu Cláudia, até porque Nelson Rodrigues fala por nós e como fala bem!

Senhora do tempo

E vamos nós mais uma noite a caminho da madrugada, estou pensando em ti e tuas longas noites escrevendo artigos científicos para publicação,  na carreira de pesquisadora se faz necessário. Muitas dessas noites te acompanhei, as vezes interrompia para conversar com o meu afilhado, outro que gosta da noite desde criança.  Parece que no silêncio das madrugadas o nosso rendimento é maior. Paravas para fazer um café, um lanche, colocar água para o chimarão, um aluno pedia socorro, ía para a tua casa porque tinha que acabar a monografia, precisava só de uma orientação e tu estavas sempre ali. Coincidência ou não, mesmo morando em Brasília, acompanhei essas viradas de noite ao teu lado, no outro dia um café e pegar a estrada para o campus. Muitas pessoas receberam de ti esse suporte, mesmo cansada estavas ali, quanta batalha, quanto estudo, quanto resultado.  Essa semana o Odir publicou um reconhecimento ao teu trabalho, junto com a equipe do laboratório. Desde aluna começaste a pesquisar a leptospirose entusiasticamente, quando Pelotas sequer sabia da epidemia, tu já tinhas feito esse diagnóstico, me ligastes e pensamos como conduzir o assunto da melhor forma, já que eras uma estagiária da secretaria municipal de saúde. Eras certeira, por isso sempre confiei no que me dizias. Ir para a biotecnologia foi aprofundar as possibilidades de pesquisa e diagnóstico, sempre uma entusiasta, encaixava projetos escritos nas madrugadas, conseguias verba, financiamento, bolsa para os alunos. Tempo?! Não era problema, as horas se multiplicavam diante da tua vontade de querer sempre mais. Então, fica muito difícil imaginar o agora, o tempo real, as horas e minutos passando e nada acontecendo. O que há por vir?! Tanto tempo desperdiçado, não é mesmo?! Quanto isso estaria rendendo nas tuas mãos… Aqui estamos todos nós e eu me pergunto onde estás tu, o que tens feito, como ficarás?  Não tenho nenhuma dessas respostas. Só posso desejar que esses longos dias não te tenham feito sucumbir, que as horas tenham te tido misericórdia, que estejas cuidada por Deus, como uma amiga diz, que Ele esteja te carregando na palma da sua mão, que a vida te cuide com carinho, aquele carinho e cuidado que não tiveram contigo quando te levaram de nós… minha querida amiga, minha senhora do tempo…

Não sei…

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Abri o blog sem saber o que iria escrever, mas não quero deixar de fazê-lo, então aqui estou digitando para ver se algo acontece nesse meio tempo. Depois da madrugada de domingo, quando parei de digitar porque uma tristeza me invadiu, fiquei um pouco angustiada e as palavras cessaram. Muitas vezes não sei o que pensar, então tento me ocupar para não pensar. Tem dias que cozinho, outros leio, enfio a cara no trabalho, aliás tenho saído tarde essa semana, e, muitas vezes, alterno entre noites insones acordadas ou um sono pesado que me invade abruptamente, aconteceu ontem… Acredito que é uma forma de defesa do nosso organismo, nos faz dormir de qualquer jeito, para que possamos nos recuperar. Nas noites insones acabo tomando algum remédio, nem que seja um fitoterápico qualquer, não gosto de drogas pesadas. Como estou num período de muita sensibilidade, que mina as forças interiores, acabo evitando leituras que me incomodam, que colocam o dedo na ferida do teu desaparecimento, que são de uma insensibilidade ímpar, que chocam, que não te ajudam… Percebi que algumas coisas precisam do embate para sobreviver, não medem consequências nem seus atos, usam a tua imagem de forma quase desrespeitosa e isso dói, fico imaginando se a tua mãe visse e agradeço sempre que ela não tem como. Ontem escrevi para uma amiga que o que mais se quer é que tudo isso acabe, que tenhamos uma pista, qualquer uma, que possamos ir na tua busca, as pessoas tem bradado: justiça! Pois, abro a mão dessa justiça para te ter de volta, justiça é uma segunda etapa, quem quiser entender mal o que escrevo fique a vontade, pois troco qualquer coisa para que voltes… Se quero Justiça?! Claro que sim, mas quero a tua volta primeiro… É isso o primeiríssimo objetivo, acredito na justiça divina, então, sempre que rezo a Deus, peço por ti, sempre por ti primeiro. Um dia essa justiça poderá ser feita, e é evidente que a quero, mas com todas as minhas forças, primeiro vens tu Cláudia, sempre! Então, não sei quando voltarás, não sei sobre o que escrever, não sei por qual justiça as pessoas berram, não sei porque isso aconteceu, não sei …  Só sei que dói!

Veterinária

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No segundo grau é normal as pessoas terem dúvida sobre qual carreira seguir, eu me dividi entre ciências sociais e medicina, venceu a primeira, já era mãe e queria estar presente na criação dos meus filhos, porém sempre gostei de tudo o que fosse ligado às ciências biológicas. Tu fizestes primeiro educação física, mas tinhas uma veia ligada à pesquisa, a área de saúde sempre te interessou. Meu filho foi uma de tuas cobaias na infância, aplicavas injeção de maneira impecável, depois fui eu, rsrsrsrs, confiança é isso.  Assim mais tarde fostes fazer medicina veterinária, veio o mestrado, a pesquisa intensa, o doutorado e a carreira brilhante.  Essa experiência na veterinária foi tão intensa que contaminou a tua sobrinha Silvia, que seguiu as ciências biológicas e  o teu sobrinho Mateus, que ao te visitar em Pelotas, já cursando engenharia civil na UnB, voltou a Brasília com o firme propósito de fazer um novo vestibular, dessa vez seguiria os passos da tia  Cláudia, bastou uma tarde no campus da UFPEL contigo, até uma cirurgia numa vaca ele assistiu. Vestibular feito, nascia mais um médico veterinário. Lembro do teu orgulho por ele que conhecestes um bebê. Em contrapartida, na formatura dele viestes para ser a sua madrinha. Esses laços sempre foram fortes entre nós, meus filhos te amam como eu, foram influenciados por ti, pela tua família, pelo teu amor.  Escrevo aqui sentindo um carinho imenso por tudo que vivenciamos como família eleita. Lembro da valsa que madrinha e afilhado dançaram, coroando a escolha de quatro anos passados, como foi bonita. Das conversas que tinhas com a minha filha e do orgulho mútuo entre vocês duas a cada conquista uma da outra , professoras doutoras de universidades. Neste momento travei, foi exatamente isso, no auge da tua carreira é só o que me ocorre agora, no auge da tua carreira, por quê?! A vida estava indo tão bem, tinhas conquistado tanto, na vida pessoal, profissional, espiritual…  Travei… não consigo entender, não consigo mais escrever, o meu texto estancou, como a tua vida. 

Ah, vai se catar!

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Uma amiga me lembrou desse teu bordão hoje, nada melhor para iniciar o meu dia, rindo, era a tua saída quando alguma coisa irritava.  A vida tem sido tão surreal depois do teu desaparecimento que fica até difícil te explicar aqui, seguir a rotina e tocar adiante não é nada fácil. Achar uma explicação para tudo o que veio depois e tentar conviver com o vazio, a injustiça, a bagunça de sentimentos, o julgamento público, ah, vai se catar!  Não dá, né?! Necessário seguir em frente, necessário colocar a cabeça em ordem, necessário suplantar os olhares e palavras acusatórios… Ah, vai se catar!  Para com esse jogo de esconde esconde, para com esse disse me disse, para com esse desaparecimento, tudo causa dor e somos nós que conhecíamos e amávamos  a Cláudia que a sentimos a dor pungente do seu sumiço. Somos nós que acordamos todos os dias sem ela e sabendo que falta um pedaço de nós, então, ah, vai se catar! Hoje essa brincadeira de lembrar de ti tornou o dia mais leve. Sabes que não tem sido fácil, para ninguém! Já são quatro meses sem um vestígio sequer, as vezes penso que a vida não poderia ter sido mais dura e tento entender essa provação, não há compreensão que dê jeito, a ausência se sobrepõe a qualquer racionalização, ah, vai se catar!  Dá uma vontade doida de mandar meio mundo se catar, porque assim parece que ameniza. Não se sintam ofendidos, por favor, hoje foi essa a lembrança da Cláudia!  Parece uma bobagem, mas até da bobagem sentimos saudade. E assim será o dia, vivendo um pouco, saudade muita, olhando as besteiras alheias, ah, vai se catar!

Jaleco

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Me ocorreu a lembrança de uma coisa que a tua mãe falou, que um dia chegou no pátio e viu o varal todo branco e foi te perguntar o que era aquilo. Respondestes que eram os jalecos dos teus estudantes, que tinhas levado para lavar, pois querias ver todos bonitos e bem limpos. Assim era a tua beleza, resplandecente, gestos como esse te faziam sempre estar rodeada de vida, eras uma doutora, tinhas um conhecimento ímpar, projetos importantes aprovados, reconhecimento e renome internacional, porém, eras uma igual, os títulos te orgulhavam, mas nunca te subiram à cabeça. Isso aproximava as pessoas, não havia uma falsa modéstia, todos sabiam que ali estava uma doutora, mas antes de tudo, ali estava o ser humano Cláudia, a pessoa que estendia a mão para que quem a segurasse pudesse ser elevado. Quantos foram teu aluno e quantos seguiram estudando porque viram o prazer em conhecer que repassavas. A excelência fazia parte de ti, mas nunca te dominou. O mundo precisa de mais essência, mais ser do que ter, humanidade, amor.  Sempre gostamos muito de filmes, há uma passagem num filme do Al Paccino, O Advogado do Diabo, que lembro que ele diz que sempre conquistará o ser humano por sua vaidade, espero que com o teu algoz assim seja. Que o falso orgulho de ter feito algo grandioso o faça cair, assim como a sua máscara. Não houve a compreensão de um verdadeiro sentimento, até porque sentimentos não se explicam,  se sentem, como explicar a uma pessoa incapaz de entender?! Sempre vivestes sentindo, a alegria era constante no teu sorriso verdadeiro. Queria que o mundo sentisse mais, fosse mais humano, para que tragédias como a tua, não pudessem ser repetidas. Os jalecos são só uma capa, o que interessa verdadeiramente é o conteúdo! Não é Cláudia?!

Bom dia Cláudia!

Resolvi te dar um bom dia hoje, como tantas vezes, talvez por viver uma ilusão, ou por manter uma falsa esperança que tantos criticam, não importa, a relação de amor, amizade sempre estará acima de críticas vazias, porque o sentimento existe por si só. Poder ao menos manter o monólogo que tenho feito por quatro meses me é saudável, assim como manter a fé, que várias pessoas deveriam tentar ao menos ter. Isso nos ajuda, mesmo sabendo, tendo a consciência de que tudo pode dar errado, mas ainda não deu, ainda não existe concretude, ainda podemos ter esperança, pode ser mínima, mas e daí?! Enquanto houver uma faísca, uma pequena chance vamos manter, OK?! Será que isso é proibido?! Acredito que não… Então vamos ao dia, vamos viver, sonhar, imaginar, lembrar.  Falando com a tua mãe ela me perguntou sobre o que eu escrevia, disse para ela que era o que me ocorria no momento, as vezes despertado por uma lembrança de alguma coisa que fazias, ou que tínhamos vivido juntas, ou ainda, que tinhas me contado. Por muitas vezes escrevi sobre a minha aflição, mas isso não falei com ela, não tem porque aumentar a dor e a angústia que ela está sentindo, tento amenizar, seja fazendo uma oração, indicando um texto para sua leitura ou apenas conversando, sei o quanto ela precisa ser ouvida, com calma. As pessoas são diferentes, há as que precisam falar e as que querem calar, ou ainda, as como eu que precisam escrever, no meu caso, escrevo para ti, com a esperança de que um dia possas ler, pequena?! Sim, mas existente, teima em sobreviver apesar de tudo e de todos, então, vou continuar escrevendo pelo tempo que for necessário, respeito a mim como respeito aos outros, por isso tantas vezes peço respeito aos meus semelhantes. Então, me resta pedir, por favor, não tentem tirar a nossa esperança, um dia a realidade pode cair nas nossas cabeças, mas isso ainda não aconteceu!

Página Desaparecida Cláudia Hartleben

Quatro mulheres se sensibilizaram quando a Cláudia desapareceu e criaram a página Desaparecida Cláudia Hartleben para que o sumiço da Cláudia não fosse esquecido pelas pessoas, agradeci diversas vezes àquela iniciativa, mas hoje estou horrorizada com os rumos que essa linda iniciativa tomou. Desde as eras pré históricas se percebe no ser humano uma necessidade de espetáculo e derramamento de sangue, isso tem sido percebido em várias  manifestações e comentários postados na página.  Segui a página desde o  seu  início, lia com atenção, mas nunca dei muita bola para as idiossincrasias normais para esse ambiente, só que tem mais ou menos uma semana os rumos dos posts mudaram, as pessoas estão cometendo crime de  incitamento ao ódio e a violência, aqui esclareço que sou leiga, aquilo deixou de ser normal. Percebo também uma manipulação e um direcionamento de opinião criminoso por parte de quem atualmente administra esse ambiente que foi criado com a melhor das intenções, aqui estou me expondo para dizer cuidado, ninguém pode brincar de Deus ou querer fazer justiça com as próprias mãos. Os posts que não concordam com a orientação de quem está administrando esse ambiente  tem sido sumariamente apagados. Sim, não tem existido livre manifestação, existe uma clara indução para apontar a família da Cláudia como omissa, já não bastasse todo o sofrimento dessas pessoas pela falta da Cláudia, ainda tem que conviver com o julgamento público. Querem induzir que A e B são os culpados, ninguém sabe o que realmente aconteceu, não se pode apontar sem provas. Qual o objetivo disso? Quem está manipulando? Por que querem essa condução tão diferente da finalidade inicial de quem criou a página?  No mundo hoje tem – se cometido atrocidades, diariamente se lê e se vê turbas cometendo linchamentos em nome da justiça e impregnados pelas redes sociais, deixo o alerta para que as pessoas tentem pensar por si, sem influências alheias. Este é o meu canal de manifestação, estou lamentando os rumos que a página desaparecida tomou. Que triste, a memória da Cláudia merece mais respeito.  Cláudia é uma pessoa justa, espero que tudo seja esclarecido para que os verdadeiros responsáveis paguem pelo que fizeram e para que pessoas inconsequentes parem com essa boataria sem fim.

Barbados

Em 2013 tu e o Pedro me convidaram para uma viagem em família  a Barbados, já tinham alugado uma casa, então era só providenciar a passagem. Seria uma viagem de oito dias àquele lugar paradisíaco.  Não sei porque, e, até hoje realmente me questiono, porque não fui. Lembro que vários motivos me assombraram, o fato de estar descapitalizada pela ida no ano anterior à Europa, uma possível viagem a Espanha logo depois, que não aconteceu, a passagem que ficou mais cara durante o período da minha indecisão, questões pessoais de finanças, coisas que penso atualmente serem menos relevantes, me arrependo tremendamente de não ter acompanhado vocês. Aprendi que não se deve deixar que coisas importantes sejam relegadas a um segundo plano.  Viajar com vocês teria sido tudo de bom!  Essa reflexão não é de agora, no momento em que não embarquei já existia o meu arrependimento. Agora, é claro que esse arrependimento se tornou mais pesado Cláudia, as circunstâncias o fazem assim. Se existe uma lição a aprender é a que na vida não existe uma segunda chance, nunca deixei para depois o que poderia fazer hoje, entretanto, não viajei contigo. Foram dois momentos, a viagem a Barbados e a ida de carro a Pelotas no final do ano passado, que me arrependo de não ter realizado. Já tínhamos combinado nossos passeios,  de barco e a São José do Norte, essa viagem realmente não deu, o trabalho me chamou.  Sinto tanto não ter atendido o convite de vocês… A cada dia que passa me recordo de fatos que permearam as nossas vidas, a tua risada constante quando acendias o fogo na lareira, e a tua voz dizendo, coisa boa é um foguinho; os pratos cozinhados rapidamente na hora do jantar para finalizar o dia; as conversas sobre o teu trabalho e os rumos a tomar; sobre a minha vida em Brasília e as tuas reclamações sobre o “meu abandono”, sempre torcestes por mim, mas reclamavas a minha falta. Enfim, se pudesse voltar no tempo, me permitiria ser menos rígida com horário, trabalho, com a vida  (ah, essa herança alemã que persegue a nós duas), teria te dito aquilo em que não deverias apostar, experiências que não deverias viver, mas quem sou eu para decidir o teu destino?! Mas voltaria no tempo para ir contigo a Barbados, com certeza!