Flores

 

Nós duas sempre gostamos de flores, acho que elas nos dão uma beleza que alivia a alma, trazem um certo alento para tudo aquilo que não conseguimos engolir. A beleza de um jardim nos faz viajar, o seu perfume inebria. Estou indignada com o mundo, com a violência, não falo só dos assassinatos, assaltos, tem as disfarçadas. Me pergunto como alguém consegue enriquecer às custas da fome de outrém, da moradia, da saúde, como?! Como pode ser feliz com aquilo que falta ao seu semelhante?! Que ética traduz essas vidas? Como alguém consegue fazer fortuna com a miséria humana?! Não consigo compreender esse mundo, não vejo como as pessoas podem ser solidárias a dor alheia na caridade se seus ganhos são oriundos da desgraça dos outros: moradias que desmoronam por falta de cimento, doentes que morreram com o desvio de medicamentos, criança com fome que deixa de comer a merenda que não chegou, pessoas desatendidas pelo profissional que faltou. Ninguém refletiu ou se julga ao menos responsável?! Quem vai se punir pelo tempo perdido? Quem vai se responsabilizar pela dor causada? Até quando vamos nos desculparmos pela inércia e descaso?! Até quando continuaremos dizendo que não nos cabe?! Por que aceitamos tão facilmente as desculpas?! O ano todo transcorreu sem que o teu processo tivesse sido devidamente analisado, por quê?!  Por que ninguém conseguiu saber o que aconteceu contigo?! Por que não temos nenhuma resposta?! Quem vai nos dar alguma justiça?! Quem daqueles que podem fazer alguma coisa ainda se importa contigo?! Eu que nunca acreditei em inferno hoje espero que os pecados sejam ao menos pagos por lá, espero que realmente exista justiça divina. Estou furiosa com a injustiça dos ditos humanos. E as flores?! O que elas têm a ver com a minha indignação e todas essas questões?! Ainda consigo olhar para as flores e perceber alguma beleza, sei que neste mundo ainda tem quem se importe, é com essas pessoas que poderemos contar, certamente elas também acham que flores nos dão alento na aridez da vida. Ainda quero ver e sentir a beleza das flores…

Parabéns Cláudia!

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Foto de Francine Sinnott

Parabéns querida amiga, neste segundo aniversário que não estás conosco, parabéns! Se pudesse te dar um presente seria um jardim de paz, lindo e perfumado, com a melhor música ambiente. Escolhi esta foto por ser tão representativa de quem tu eras e uma das mais próximas da data do teu desaparecimento. Queria escrever um texto legal, não sobre a dor que nos acompanha, mas sim sobre ti, não sei se vou conseguir fazer essa homenagem… Vida, essa é a palavra que melhor te descreve, possuías muito dela e um conhecimento vasto que transmitias a quem quisesse, mas, se necessário, estavas a frente de qualquer tarefa para que toda a sabedoria não ficasse restrita por problemas técnicos e operacionais. Sempre foi assim em toda a tua vida, uma eletricidade impulsionadora, um ritmo contagiante, mas nem sempre acompanhado.  Não era fácil, as idéias iam pululando freneticamente e tinhas a capacidade única de as ir implementando. Escrevias, pesquisavas, davas aula, orientavas alunos, arrumavas a casa, restauravas móveis, cortavas a grama, cuidavas dos gatos e cachorros, fazias artesanato, em paralelo cumprias as tuas obrigações religiosas, sabendo sempre que o humano estava acima de qualquer outro fim. Sei que aproveitastes todos os minutos desta tua vida, sei que em muitos deles fostes radiante e que em todos os momentos prevaleceu a tua humanidade. Assim como para mim, para muitas outras pessoas és uma estrela guia, teu brilho vai perdurar por muitos e muitos anos, mesmo que não estejas mais conosco…

♥Feliz aniversário Cláudia!♥

“Na convivência, o tempo não importa.
Se for um minuto, uma hora, uma vida.
O que importa é o que ficou deste minuto,
desta hora, desta vida…
Lembra que o que importa
… é tudo que semeares colherás.
Por isso, marca a tua passagem,
deixa algo de ti,…
do teu minuto,
da tua hora,
do teu dia,
da tua vida.”
MÁRIO QUINTANA

Eu tenho medo

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Eu tenho medo de que a tua mãe nunca possa se despedir, de continuar sofrendo com o dia do teu aniversário, com o da data do teu desaparecimento,  de nunca saber o que te aconteceu, medo de que nunca tenhas um enterro digno, medo de que te esqueçam. São muitos os medos que me assolam sobre ti, não falo de falta de coragem, essa nunca me faltou, mas desse padecimento que tem nos corroído ao longo desses meses, ansiedade, frustração, esgotamento, a esperança sendo carcomida aos poucos causando uma dor inexplicável, e em muitos momentos uma apatia, pausa suficiente para recuperar o fôlego perdido. O medo aqui é a consciência do fato real de que nunca vais voltar e isso dói, traz uma falta de perspectiva, de expectativa, é a pura falta… Todos os dias eu penso e repenso e os cenários possíveis só causam mais mágoa. Dentro de mim habita um enorme desgosto e um medo de te magoar mais ainda… Se ao menos houvesse um lugar físico para poder te visitar, nem isso restou…