Carta da dona Zilá para sua filha Cláudia, 4 anos de desaparecimento

Cláudia minha filha, a Maria Júlia me disse: quer coisa ou motivo maior ou melhor que saber que os que amamos estão bem?!Procura a renovação mental, pensando em todas as coisas boas que vivencias no momento.

A justiça dos homens não é a justiça de Deus, então é preciso que vivas esses bons momentos na tua vida e deixa que aquelas folhas que se vão vão vão…

A alegria e a emoção me invadiram naquele momento, em saber que estás usufruindo tudo de bom que plantastes aqui na terra.

Aqui as homenagens se sucedem, nos enchendo de orgulho.

O nosso reencontro será lindo! Que Deus me ajude que eu consiga ir para onde estás filha.

A tua Paineira está toda florida e as Nogueiras cheias de frutos. Estás aqui em todos os lugares e momentos!

Te amo filha!

Que Jesus te abençoe e te guarde e Maria Santíssima te cubra com seu Sagrado manto.

Te amamos,

Mãe

4 anos – À tua fé o meu respeito

É assim que eu quero lembrar sempre de ti, com esse sorriso largo e feliz.

Dia 19 de março, o processo do teu desaparecimento foi arquivado. Naquela noite, a tua mãe escreveu um texto pra ti e para todos os que acompanham o teu caso, para começarmos uma nova etapa, a de paz, luz e orações por ti.

Tu eras uma pessoa de fé, congregavas a fé espírita. Eu, hoje, quero me colocar no teu lugar e no da tua mãe. Olhar tudo o que aconteceu pelos teus olhos e pensar no que tu, como mãe, gostarias que tivesse acontecido.

E, pensando em ti, em tudo o que vivemos, em mais de 30 anos de amizade, acredito que me dirias, assim foi melhor.

Sabemos que na doutrina espírita sempre viemos juntos, para algum resgate, crescimento e, eu diria, nos meus parcos conhecimentos, em comparação aos teus, que também para a justiça de vidas passadas.

A tua mãe me confidenciou que não conseguiria ver o neto sendo preso e na cadeia. Só ela sabe a dor que foi te perder, só ela carrega essa cruz, por ela tenho o máximo respeito, por toda a dignidade perante a dor. Também me disse, a Cláudia nunca poderia ver isso.

O que as pessoas pensam disso já não importa, o que importa é o bem estar da tua mãe. Então a frase doa a quem doer fica sem sentido, porque quem está carregando esta dor é a tua mãe. Também dói em nós, mas é ela que sente a tua falta todos os dias, o sofrimento imenso é dela.

Se houver julgamentos públicos pela decisão da D. Zilá, que venham, independente de tudo o que aconteceu nesses 4 anos, todas as ações tomadas pela família e pelos amigos sempre foram julgadas. Seguimos em frente, sempre foi pela Cláudia…

Essa falta justiça terrena me faz crer que assim desejastes, precisas agora do teu descanso, como me disse a tua mãe. Por isso te ofereço as minhas orações, para que encontres a tua luz e o teu caminho espiritual.

Que o teu espírito fique em paz minha amada amiga e irmã!

Agora descansa na acolhida de Deus!

O que uma mãe é capaz de fazer pelo seu filho

Quando temos um amor incondicional e esse amor é para os nossos filhos, não conheço outro amor incondicional, somos capazes de fazer muitas coisas, na defesa deles.

A Cláudia sempre foi incondicional na defesa do seu filho. Por duas vezes discutimos na vida mais seriamente, ambas por divergências na condução da educação dos filhos.

Como boas amigas sempre respeitamos a opinião uma da outra, mesmo na divergência.

Eu acredito que ela teria sofrido imensamente, ao ver seu filho indiciado. Existe, de minha parte, uma tristeza profunda nessa suposição.

Não tenho como mudar o passado, não posso intervir no que aconteceu, não tenho condições para fazer um julgamento. Sofro com isso, mas temos que continuar em frente.

Hoje as poucas coisas que consigo fazer na distância é não deixar a Cláudia ser esquecida e ser presente para a sua mãe, D. Zilá.

Na semana do seu aniversário de 84 anos, que foi dia 27 de março, a dona Zilá esteve no lar Fabiano de Cristo e lá recebeu uma recomendação, que deixasse a Cláudia descansar, que agora elevasse as suas orações para ela.

Conversamos nesse dia e foi isso que ela me pediu, enquanto não temos a justiça dos homens, pois temos a certeza da justiça divina.

A acusação

Penso, hoje, que o desaparecimento da Claudia será mais um caso insolúvel.

Não temos pistas, não temos materialidade, apenas indícios e antecedentes. Não há testemunha.

O promotor investigou exaustivamente, pediu revisão de pericias, buscou provas e fez dois indiciamentos, que são públicos.

Aqui no blog sempre me coloquei para a Cláudia, a nossa amizade e vivências. Desde o início o meu foco foi para ela e para a defesa dela.

Coloquei, também, diversas vezes que eu não sabia o que tinha acontecido e, portanto, não iria acusar ninguém.

Gostaria muito que esse caso se resolvesse e que os culpados fossem punidos. Punir qualquer um apenas para dar resposta a sociedade, não é fazer justiça.

Eu tenho a minha suposição, mas suposição não prova nada.

Me pego constantemente tentando pensar como se fosse a Claudia, como ela agiria, como ela gostaria que tudo isso se resolvesse.

Hoje, penso que não chegarei a uma conclusão. Tento ficar em paz com a minha consciência e faço aquilo que acho que ela gostaria que eu fizesse.

Se, um dia, aparecer uma pista e a prova cabal de quem executou esse crime, que a lei seja cumprida!

As perguntas não respondidas

Todos se perguntam o que aconteceu com a Cláudia.

São inúmeras as perguntas não respondidas, mesmo para nós, amigos e família, não há respostas.

O que se sabe: Cláudia visitou enfermos, jantou com uma amiga, retornou para casa. Entrou e fez um café, jogou a colherinha na pia, como sempre fazia. Seu filho, de quem sou madrinha, estava em casa.

Se percebeu uma diferença de comportamento, as roupas dobradas no quarto. Como ela visitou doentes, ela não entraria com essas roupas no quarto, ela as colocaria direto na máquina de lavar, porque sempre fazia assim. Por ser uma cientista, que estudava doenças, tomava muito cuidado com contágio.

Sobre as cortinas, no dia da faxina a Cláudia, pela manhã, retirava as cortinas e colocava para lavar, quando voltava para casa, pendurava as cortinas, para secar, já no local delas.

Isso é o que sabemos!

As pessoas sempre perguntam como que o goleiro Bruno foi preso e no caso da Claudia não há nenhuma prisão. Eu respondo, no caso da Elisa Samudio havia materialidade, o sangue dela foi encontrado no carro e seu filho estava, sob os cuidados da ex-mulher do goleiro. No caso da Cláudia não existe absolutamente nada, nem o corpo, nenhuma materialidade.

Quanto as críticas à família e aos amigos. No início, todos nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, para encontrar a Cláudia viva, porque acreditávamos nisso.

Também apostamos nas investigações da Polícia. E aqui eu faço uma ressalva, a demora no início dessa investigação e a greve que aconteceu no meio dela, trouxeram prejuízo ao caso. Outro problema enfrentado, a falta de peritos no Rio Grande do Sul.

Quando vimos que a investigação policial não seria suficiente, foi contratada uma empresa particular, para acompanhar o caso. Essa empresa também não obteve nenhum resultado.

De minha parte, uma particularidade, eu procurei duas espiritualistas inclusive, para obter algum tipo de resposta. Nenhuma delas conseguiu encontrar a Claudia, sequer no umbral. Com uma delas fiz 3 consultas.

Encontramos no caminho alguns impedimentos. Não sei o porquê que uma das pessoas, que pensou em criar a página desaparecida, estava mais interessada em defender os acusados, do que realmente preservar a memória da Cláudia. Isso ainda é um mistério, inclusive para as pessoas que mantiveram a página, a quem agradeço, depois da saída dessa criatura.

A Claudia foi tremendamente prejudicada e a investigação sobre o caso dela também. O Ministério Público resolveu processar algumas pessoas, por considerar que estavam prejudicando as investigações, com as intensas críticas ao promotor e ao advogado da Cláudia. Ao advogado, naquele momento, todos os meus agradecimentos, era um colega de universidade da Cláudia, que se propôs a atender a dona Zilá, sem nenhuma remuneração.

Quanto ao perito Sanguinetti. A família procurou a ajuda dele, lhe deu todo o apoio, inclusive fornecendo informações sobre o caso da Cláudia. Para nossa surpresa, ele foi um dos que se colocou ao lado da pessoa que eu citei acima, que defendia os culpados. A partir daí, nós nos posicionamos contra a ida dele a Pelotas, por acharmos que ele também estava prejudicando o processo.

A verdade é que, não sabemos o que aconteceu, como aconteceu, onde a Cláudia está, não sabemos. Encontramos muitas dificuldades no decorrer da investigação e de todo processo criminal.

Gostaríamos que ela tivesse sido encontrada e recebesse um enterro digno, o que não foi possível.

Sobre a dona Zilá, uma das pessoas mais fortes que eu já conheci na minha vida, de uma fé inabalável e dignidade extrema, de um imenso respeito a memória da filha e para tudo que dela restou. Até hoje ela faz o Evangelho espírita no lar, pela família e pela Cláudia.

Aqui na terra, não há mais nada a fazer, enquanto não surgir nenhuma pista.

Pela crença da dona Zilá e da Cláudia, há a esperança na busca de uma vida espiritual tranquila e cheia de luz.

Para quem, até hoje, mantém a memória da Claudia viva, todos os meus agradecimentos!

O sentido da vida

No dia 9 de maio de 2008, eu e outras amigas recebemos essa mensagem da Cláudia… Muitas coisas, para nós, não fazem sentido, sobre tudo o que aconteceu com ela, mas para ela faz todo sentido…

“Encaminho para compartilhar com vocês as palavras de M. Medeiros… embora discorde quanto a falta de sentido da vida. 

Acrescento, então, ao texto minha opinião: Acredito que a vida tem sentido sim, embora talvez não tenha o sentido que queremos ou que entendemos no momento.

Abraços da amiga, Cláudia

Aproveito para desejar um Feliz Dia das Mães para todas, sejam mães de humanos , caninos, felinos e outros mamíferos. Também mães de aves, peixes e répteis. 

Beijo”

Os quatro fantasmas –  Martha Medeiros

Leiga, totalmente leiga em psicanálise, é o que sou. Mas interessada como se dela dependesse minha sobrevivência. Para saciar essa minha curiosidade, costumo ler alguns livros sobre o assunto, e outro dia, envolvida por um texto instigante – acho que da Viviane Mosé, que já foi mencionada nesta página anteriormente – me deparei com as quatro principais questões que assombram nossas vidas e que determinam nossa sanidade mental: 

São elas: 

Sabemos que vamos morrer. 

Somos livres para viver como desejamos. 

Nossa solidão é intrínseca. 

A vida não tem sentido. 

Basicamente, isso. Nossas maiores angústias e dificuldades advêm da maneira como lidamos com nossa finitude, com nossa liberdade, com nossa solidão e com a gratuidade da vida. Sábio é aquele que, diante dessas quatro verdades, não se desespera. 

Realmente, não são questões fáceis. A consciência de que vamos morrer talvez seja a mais desestabilizadora, mas costumamos pensar nisso apenas quando há uma ameaça concreta: o diagnóstico de uma doença ou o avanço da idade. As outras perturbações são mais corriqueiras. Somos livres para escolher o que fazer de nossas vidas, e isso é amedrontador, pois coloca a responsabilidade em nossas mãos. A solidão assusta, mas sabemos que há como conviver com ela: basta que a gente dê conteúdo à nossa existência, que tenhamos uma vontade incessante de aprender, de saber, de se autoconhecer. 

Quanto à gratuidade da vida, alguns resolvem com religião, outros com bom humor e humildade. O que estamos fazendo aqui? Estamos todos de passagem. 

Portanto, não aborreça os outros e nem a si próprio, trate de fazer o bem e se divertir, que já é um grande projeto pessoal. 

Volto a destacar: bom humor e humildade são essenciais para ficarmos em paz. Os arrogantes são os que menos conseguem conviver com a finitude, com a liberdade, com a solidão e com a falta de sentido da vida. Eles se julgam imortais, eles querem ditar as regras para os outros, eles recusam o silêncio e não vivem sem aplausos e holofotes, dos quais são patéticos dependentes. A arrogância e a falta de humor conduzem muita gente a um sofrimento que poderia ser bastante minimizado: bastaria que eles tivessem mais tolerância diante das incertezas. 

Tudo é incerto, a começar pelo dia e a hora de nossa morte. 

Incerto é nosso destino, pois, por mais que façamos escolhas, elas só se mostrarão acertadas ou desastrosas lá adiante, na hora do balanço final. 

Incertos são nossos amores, e por isso é tão importante sentir-se bem mesmo estando 

só. Enfim, incerta é a vida e tudo o que ela comporta. Somos aprendizes, somos novatos, mas beneficiários de uma dádiva: nascemos. Tivemos a chance de existir. De se relacionar. De fazer tentativas. O sentido de tudo isso? 

Fazer parte. Simplesmente fazer parte. 

Muitos têm uma dificuldade tremenda em aceitar essa transitoriedade. Por isso a psicoterapia é tão benéfica. Ela estende a mão e ajuda a domar nosso medo. Só convivendo amigavelmente com esses quatro fantasmas – finitude, liberdade, solidão e falta de sentido da vida – é que conseguiremos atravessar os dias de forma mais alegre e desassombrada.

O amor de uma mãe é incondicional?!

Muitas mães amam seus filhos incondicionalmente. Com a Cláudia era assim…

Muita dedicação muita atenção e muita preocupação, não gostava que interferissem na sua maneira de ser maternal.

Seu filho vinha antes de tudo…

A sua preocupação com ele dobrou com a morte de seu pai e avô de seu filho. A falta do companheiro do filho preocupava a mãe.

Essa morte mudaria também a vida da Cláudia. Ela resolveu se cuidar, para que pudesse continuar a cuidar do filho, que entrava na adolescência.

Maternidade e a família

A maternidade nos transforma, não foi diferente com a Cláudia. Ela se tornou uma mãe extremada, companheira e, junto com o Seu Arlindo e a Dona Zilá, amaram e cuidaram do filho e neto.

Sempre quis dar tudo o de melhor para o filho, em estudo, educação, oportunidades de vivências.

O filho acompanhava o avô em tudo, aprendeu com ele a fazer qualquer tipo de reparo, e a cuidar das árvores e do pátio. O avô se foi cedo, depois de uma pneumonia dupla.

A Cláudia era fã do pai, transmitiu esse sentimento ao filho. Ambos sentiram demais essa partida. O cuidador se foi, deixando em prantos a sua eterna namorada, D. Zilá.

Para mãe e filha restou a força de seguir em frente.

Eu tenho um objetivo aqui, defender o que eu acredito que a Cláudia gostaria.

Quando nos tornamos mãe?!

No decorrer desses dias, escreverei sobre o que me levou a tomar uma posição, que publicarei no dia 9.

Não haverá nenhum julgamento de minha parte, não apontarei meu dedo para ninguém, simplesmente vou externalisar os meus porquês.

Então meus amigos, eu espero que leiam, mas também não façam julgamentos. A Cláudia que conheci e era minha querida amiga, não gostaria que houvesse …

Se sentir mãe é diferente para cada mulher, pode ser no início da gravidez . Para mim foi quando eu soube que estava grávida…

O vínculo entre a mãe e seus filhos é único, cada filho percebe este elo de uma determinada maneira.

A Cláudia, que não dava muitas demonstrações afetivas, tinha um amor visceral pelo seu filho.

Como muitas mães, era um amor incondicional…

Sempre foi assim…